segunda-feira, 5 de abril de 2010

Conto:Almas Gêmea.


De: Sylvio Moura.

Ela – Olha a caixa no chão, encolhe o corpo ainda mais ao som da porta do prédio que se fecha com violência quando ele sai de casa. Uma lagrima escorre pelo seu rosto moreno claro e macio, seus cabelos castanhos da cor dos olhos, caem levemente sobre sua face até passar por seus ombros e se dividirem entre suas costas e seus braços cruzados sobre os seios. Quando percebe que está só, ela se levanta, anda até a janela, e observa o céu, as nuvens negras são de tempos e tempos clareadas pelo clarão de um raio, a chuva cai grossa, ela abre a janela e sente a brisa fria lá fora.

Ele – caminha lentamente pela chuva, tentando proteger seu cigarro e isqueiro numa tentativa falha de acendê-lo. seus cabelos curtos despenteados e molhados, sua capa de chuva que desce até os pés, seu terno molhado por debaixo da capa e seus sapatos novos lhe dão um ar estrangeiro, como que saído de um velho filme, sua pele branca e seus traços europeus (talvez italiano) reforçam ainda mais a impressão de um filme velho de Hollywood. Ele, para e ri de sua tentativa frustrada de acender o cigarro, olha para o céu, as nuvens negras e a chuva pesada lhe ferem os olhos sem que ele possa observar o céu.

Ela – está olhando o nada, fora de seu apartamento, uma rajada de ar mais frio lhe trás a sensação de solidão, ela retorna para o interior do apartamento, caminha na sala escura, um blusão velho e largo com estampa e uma calça de flanela verde lhe cobrem o corpo, ela caminha até a cozinha, pega uma garrafa de vinho semi vazia na geladeira, põem todo o conteúdo em um copo de requeijão, e volta para a janela a ponto de velo uma ultima vez, seu rosto se contrai e uma nova lagrima lhe corre o rosto.

Ele – olhando perdido ao céu, não sabe para onde vai, nem de onde vem, ele olha estagnado o céu, perdido entre a chuva com os olhos fechados. Quando ele sente um empurrão do lado direito do corpo, um sujeito passa apresado dando-lhe um esbarrão, o sujeito continua sua caminhada sem olhar para trás, ele gira o corpo junto com o esbarrão, ainda solta um _hooo, porem o sujeito não para, segue firme o seu destino. Ele para, observa o sujeito indo embora, ele ri da cena, se sente invisível, ele ri do próprio pensamento, da de ombros e volta para a direção em que ia e volta a caminhar.

Ela – olha o copo, meio vazio, está estagnada não vê e não pensa nada, apenas a cor do vinho, balançando no copo junto com sua mão, seu corpo balança involuntariamente, empurrada pelo vento que entra pela janela, de repente ela se dá conta de que no canto esquerdo do seu olho está visível a caixa de papelão com algumas coisas deles, ela se senta sobre as próprias pernas, põem o copo no chão e começa cuidadosamente a mexer nas roupas, ela sente o cheiro dele, fecha os olhos e lembra das coisas boas que se passaram entre os dois.

Ele – abre os olhos após o liquido quente ter-lhe percorrido a garganta, ele sente a bebida lhe percorrer todo o corpo, primeiro descendo até o estômago e ai se espalhando para os pés até a cabeça. Um : _haarr lhe sai forçadamente da garganta, rapidamente ele bate o copo e pega um isqueiro seco e amarrado no balcão com que acende o cigarro que tanto lhe dera trabalho para acender, ele tosse umas duas vezes enquanto tira o dinheiro pára pagar a bebida, deixa sobre o balcão uma nota de 2 reais e sem esperar o troco agradece e anda até a beira do bar, observa agora a chuva, e lembra de casa, a velha casa escura e solitária em que deve voltar para poder descansar para ter forças para trabalhar no dia seguinte, ele respira fundo, e sai na direção da rua para atravessá-la quando uma caixa de papelão com roupas velhas lhe passa rapidamente vindo do alto pela direita, imediatamente ele para assustado e quase sem entender olha para o lado, para a caixa, pisca uma, duas vezes, e segue o caminho até o alto, não vê ninguém, com o susto ele se distrai e o cigarro lhe foge da boca, instantaneamente ele tenta pegar o cigarro que cai no chão, ele se abaixa e o pega, ainda está acessa, ele a limpa bota novamente na boca e atravessa a rua, em direção ao ponto.

Ela – se assusta ao perceber que quase acertou um homem ao atacar a caixa pela janela, antes que ele a veja ela volta a cabeça para dentro do prédio, sua respiração fica ofegante, seu pulso dispara, num momento de nervosismo ela passa a rir da própria situação, até que começa a chorar, ela balança a cabeça e senta na poltrona, pensa em tudo o que aconteceu, lembra do homem e se levanta rapidamente, quando se levanta pega o copo de vinho no chão ao seu lado e olha pela janela, ainda consegue ver o homem no chão pegando algo, se levantando, dando uma tragada e seguindo para o outro lado da rua.

Ele – chega do outro lado e olha para cima, para o prédio, e vê uma jovem morena clara de cabelos castanhos longos e roupas velhas, segurando um copo entre as mãos e lhe olhando.

Ela – percebe quando ele a olha, seus cabelos negros molhados e sua capa de chuva protegendo um terno meio molhado e amassado.

Eles – Se olham fixamente, se perdem no olhar um do outro seu cigarro e seu copo lhe escapolem pelas mãos caindo no chão, porem eles nem reparam, apenas se olham, se entendem em uma fração de segundos, não estão mas sós, não são mais um, são dois, dois indivíduos sozinho e invisíveis que se unem e se vêem, a respiração entra em sintonia, assim como suas pulsações, quando de repente um ônibus lhes corta a vista.

Ele – acorda do sonho, olha para o chão, vê o cigarro agora apagado, olha pra frente, o ônibus que ele esperava está parado na sua frente, uma velha desce, ele num lampejo se pega a porta e sobe.

Ela – acorda do sonho, olha para o chão e vê o resto do vinho escorrendo do copo que caiu em cima de uma almofada, seus olhos voltam para o ônibus, ela sente uma curiosidade enorme para voltar a ver o sujeito.

Ele – passa pela roleta, e tenta olhar pela janela novamente ela, porem o apartamento é alto para vela novamente o ônibus começa a andar, ele esta confuso, não sabe o que deve fazer, frustrado se senta no fundo do ônibus.

Ela – espera o ônibus partir, quando ele sai, o homem sumiu, apenas uma velha está do outro lada da rua andando rapidamente na tentativa de fugir da chuva, ela para e tentar entender o que ouve.

Ele – procura um cigarro na roupa porem não acha nada, ele tenta entender o que ouve, porem o ônibus já vai longe.

Eles – não entendem o que ouve, porem ambos se sentem mais leves, mais felizes, mais prontos para o fim da chuva...

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